“E agora que vocês viram no que a coisa deu, jamais esqueçam como foi que tudo começou” (Bertolt Brecht)

sábado, 28 de março de 2015

O sexo a quem compete?

Nas Olimpíadas de 1968, as atletas tinham que comprovar que eram mulheres submetendo-se a testes constrangedores.
     “Olimpíadas vencem a guerra dos sexos”, anunciou o Jornal dos Sports no dia 30 de outubro de 1968. O tom da manchete reflete a empolgação em torno de uma novidade implantada no megaevento disputado na Cidade do México: o exame científico para confirmar o sexo das atletas.
     O texto da notícia parecia imparcial: “A presença de indivíduos cujo sexo não pode ser perfeitamente definido nas provas femininas das Olimpíadas está completamente banida e a prova é que muitos dos maiores atletas que o mundo já viu ou não chegam ao México ou, lá chegados, se negaram a submeter-se às provas para comprovação de sexo – disse ontem na redação do JS o Dr. Aníbal Silva e Costa, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Esportiva. 'A obrigatoriedade dos exames de sexo há muito tempo devia constar dos regulamentos olímpicos para evitar a sobrevivência dos hermafroditas no esporte. Sempre fui a favor dos exames porque existem mulheres que competem em tal categoria que na realidade são homens. Com a obrigatoriedade dos exames, alguns fenômenos esportivos como as irmãs Irina e Tâmara Press, da União Soviética, não compareceram ao México'”.
     Pela primeira vez as mulheres atletas tinham seus corpos vasculhados, sua sexualidade questionada, seu sexo verificado cientificamente. Sob a orientação de um comitê médico, os testes de feminilidade, também divulgados como testes de sexo, garantiam uma “carteira rosa” às atletas consideradas aptas a competir. Reduzidas à equação XX, através da contagem dos cromossomos, somente assim elas poderiam participar de Jogos oficialmente organizados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
     Nos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna, em 1896, as mulheres não podiam competir. Sua inserção nas competições internacionais foi gradativa. A antiga crença na vulnerabilidade biológica e na fragilidade inata deixava as mulheres de fora de muitos eventos desportivos. Fragilidade, vulnerabilidade e passividade foram consideradas características totalmente desfavoráveis à exigência de desempenho atlético. Durante todo o século XIX, na Europa, essa ideologia da natureza feminina foi fundamentada “cientificamente”: buscava-se provar que a mulher é fisicamente inferior ao homem, inclusive pela capacidade de engravidar. As disciplinas requisitadas para defender tais argumentos eram a obstetrícia, a biologia, a sociologia, a psicologia, a antropologia e a ginecologia. Esta última consolidou a imagem da mulher como um ser submetido ao império de seus órgãos genitais – que determinariam sua natureza nervosa, frágil e inconstante e sua predisposição a doenças e perturbações mentais, moldando assim suas capacidades sociais.
     Alguns biólogos e médicos, como Cesare Lombroso (1836-1909), reforçaram naquele século que o cérebro da mulher era menor que o do homem e que o ovário e o útero exigiam muita energia e repouso para funcionar apropriadamente. Em consequência, as meninas deveriam ser mantidas longe de escolas e faculdades a partir do momento em que começassem a menstruar. Sem esse tipo de precaução, seus úteros e ovários poderiam se atrofiar e a raça humana se extinguir.
     A mesma análise não se estendia às mulheres pobres, obrigadas a trabalhar duramente e censuradas por se reproduzirem demais. Na verdade, justamente por conseguirem trabalhar tanto e ainda assim gerar muitos filhos, elas eram consideradas mais próximas dos animais e menos evoluídas do que as mulheres das classes altas.
     No século XIX pesquisas da craniometria ressaltaram a inferioridade das mulheres devido ao tamanho da estrutura óssea, incluindo quadril. Com os avanços das mulheres nos esportes, isto perde a importância e a força. Foi nas décadas de 1960 e 1970 – quando os movimentos feministas aumentaram – que as pesquisas sobre diferenças sexuais voltaram a ganhar força. Os sociobiologistas tentavam agora provar que os comportamentos sociais constituem características humanas universais e acabam sendo transmitidas geneticamente. A agressividade e o “instinto de caça”, por exemplo, seriam essencialmente masculinos. 
     Em 1968, diante da notícia de que haveria regras taxativas contra o dopping e contra mulheres de “sexo duvidoso”, a imprensa se mostrou complacente com as versões científicas da comprovação da inferioridade feminina e de sua inaptidão para os esportes. Naquele momento, a indeterminação do sexo por um exame “científico” soava como uma ameaça ao regime social heterossexista. Ao mesmo tempo, a homossexualidade feminina colocava em risco o regime patriarcal predominante, no qual as mulheres assumem papéis sociais considerados hierarquicamente inferiores aos dos homens, tornando-se consciente ou inconscientemente submissas a eles. Mulheres lésbicas ou com gênero indeterminado eram uma ameaça ao pretenso equilíbrio social. Por isso o teste de sexualidade das Olimpíadas do México foi tão bem recebido. “O exame para a comprovação de sexo – masculino ou feminino – é bastante simples e pode ser feito através de pesquisa de dois materiais: saliva ou sangue. Colhido o material, os cromossomos são contados. Se atingir um índice X, morfologicamente a atleta é impedida de competir entre as mulheres, já que passa a ser considerada uma anomalia”, explicava o Jornal dos Sports.
     Em uma seção especial destinada aos Jogos Olímpicos, o Jornal do Brasil também comentou a novidade: “Sobre a questão do controle de sexo, exigido pelo regulamento, o secretário geral Joanes Westterohff disse que a Federação Internacional de Natação foi a única que não respondeu oficialmente ao convite que lhe fez o presidente da comissão médica para as nadadoras se submeterem à verificação sexual, apesar de as nadadoras, em sua petição de inscrição, terem firmado o compromisso de se submeterem ao controle de sexo e controle sobre o uso de drogas. O presidente da comissão médica acrescentou que várias atletas femininas inscritas nos Jogos já haviam aceito voluntariamente as exigências regulamentares”.
     “Aceito voluntariamente as exigências” é uma contradição, pois se é uma exigência jamais será voluntária. Além disso, o olhar retrospectivo para aqueles acontecimentos desperta dúvidas sobre o vínculo entre os testes e o dopping. Sobretudo pela recusa das nadadoras, pois a natação era o esporte com mais casos de uso de substâncias químicas para melhoria do desempenho em edições anteriores das Olimpíadas. Talvez fosse mais fácil duvidar da “natureza do sexo” do que assumir que o dopping era usado em grande escala – algo desaconselhável diante de uma indústria fármaco-química em franca ascensão mundial.
     Os testes de feminilidade duraram oito edições dos Jogos Olímpicos, de 1968 até 2000. Por que duraram mais de três décadas mesmo diante das críticas, tanto de associações e entidades médicas e científicas como da imprensa e das próprias atletas? Essa medida e sua duração podem ser vistas como barreira à participação feminina e como uma forma de mascarar o fato de que o dopping assumira proporções incontroláveis com o advento da indústria fármaco-química.
     A imagem de uma mulher forte e atlética confundia as certezas criadas pela ciência do sexo e do gênero como norma catalogável. Vale dizer que, antes das Olimpíadas de 1968, o teste de sexo era feito da seguinte forma: as mulheres expunham seus corpos nus a um comitê de “peritos”, que julgavam e certificavam se sua morfologia era compatível com a ideia que tinham de feminilidade. Como tal prática significava uma exposição pública dos corpos das atletas e vinha ganhando críticas das entidades esportivas, o comitê resolveu “modernizá-la”.
     O parâmetro genético adotado no teste de cromossomos indicava uma nova realidade: a política tecnológica de monitoramento e catalogação dos corpos femininos. A “carteira rosa” simbolizava feminilidade. Era o passaporte das mulheres para o universo idílico de um feminino universal, naturalizado e definido por uma equipe de peritos composta por homens.

Patrícia Lessa é professora da Universidade Estadual de Maringá e autora do relatório de pós-doutorado “A fabricação dos tecno-bio-corpos e a produção do sexismo na linguagem”, (UFF, 2010).

Saiba mais - bibliografia
DEVIDE, Fabiano Pries. Gênero e mulheres no esporte: história das mulheres nos jogos olímpicos modernos. Ijuí: Unijui, 2005.
VOTRE. Sebastião (org.). Gênero e atividade física. Rio de Janeiro: Mauad/Faperj, 2011.

Saiba mais - vídeo
JC Debate sobre Violência Obstétrica - 06/03/2014
Você já ouviu falar em violência obstétrica? Milhares de brasileiras são humilhadas, desrespeitadas e perdem o direito de escolher a melhor forma que gostariam de dar a luz.

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sexta-feira, 20 de março de 2015

Breve história da feijoada

A mistura de carnes e grãos que resultou no prato mais famoso do Brasil só ocorreu no século XIX e - ao contrário do que diz a lenda - bem longe das senzalas
Rodrigo Elias
     “O paladar não é tão universal como a fo­me", disse Luís da Câmara Cascudo em 1968. O ilustre etnógrafo e folclo­rista referia-se a um prato brasileiro, talvez o mais tipicamente brasileiro: a feijoada. Para ele, era preciso uma predisposição especial para que se pudesse apreciar os sabores do prato, assim como para usufruir todas as nuances de certos vinhos. Em outras palavras, a culinária - e mesmo a "simples" apreciação desta - pressupõe a educação de um im­portante sentido, o paladar. Por isso, é bom conhe­cer um pouco da trajetória desta instituição nacio­nal, que tem a vantagem de ser comestível.
     Convencionou-se que a feijoada foi inventada nas senzalas. Os escravos, nos escassos intervalos do trabalho na lavoura, cozinhavam o feijão, que seria um alimento destinado unicamente a eles, e juntavam os restos de carne da casa-grande, partes do porco que não serviam ao paladar dos senhores. Após o final da escravidão, o prato inventado pelos negros conquis­tou todas as classes sociais, para chegar às mesas de caríssimos restaurantes no século XX. Mas não foi bem assim.
     A história da feijoada - se quisermos também apreciar seu sentido histórico - nos leva primeiro à história do feijão. O feijão-preto, aquele da feijoada tradicional, é de origem sul-americana. Os cronistas dos primeiros anos de colonização já mencionam a iguaria na dieta indígena, chamado por grupos Guarani ora comanda, ora comaná, ora cumaná, já identificando algumas variações e subespécies. O viajante Jean de Léry e o cronista Pero de Magalhães Gandavo, ainda no século XVI, descreveram o feijão, assim como o seu uso pelos nativos do Brasil. A se­gunda edição da famosa Historia Naturalis Brasiliae, do holandês Willen Piso, revista e aumentada pelo autor e publicada em 1658, tem um capítulo inteiro dedicado à nobre semente do feijoeiro.
     O nome pelo qual o chamamos, porém, é portu­guês. Na época da chegada dos europeus à América, no
início da Idade Moderna, outras variedades des­te vegetal já eram conhecidas no Velho Mundo, aparecendo a palavra feijão escrita pela primeira vez, em Portugal, no século XIII.
     Apenas a partir de meados do século XVI começou-se a introduzir outras variedades de feijão na colônia, algumas africanas, mas também o feijão consu­mido em Portugal, conhecido como feijão-fradinho. Os cronistas do período compararam as variedades nativas com as trazidas da Europa e África, e foram categóricos, acompanhando a opinião de Gabriel Soares de Souza, expressa em 1587: o feijão do Brasil, o preto, era o mais saboroso. Caiu no gosto dos portugueses.
     As populações indígenas obviamente o aprecia­vam, mas tinham preferência pela mandioca, raiz que comiam e até transformavam em bebida, o cauim, e que caiu também nas graças dos europeus e africanos. A mandioca era o alimento principal dos paulistas, que misturavam sua farinha à carne cozi­da, fazendo uma paçoca que os sustentava nas suas intermináveis viagens de caça a índios. Mas também comiam feijão. Feijão-preto.
     O feijoeiro, em todas as suas variedades, também facilitou a fixação das populações no território luso-americano. Era uma cultura essencialmente domésti­ca, a cargo da mulher e das filhas, enquanto o homem se ocupava com as outras plantações e com o gado. A facilidade do manejo e seus custos relativamente bai­xos fizeram com que a cultura do feijão se alastrasse no século XVIII entre os colonos. Segundo Cascudo, tornou-se lugar-comum nas residências humildes do interior do país a existência do "roçadinho", no qual era atributo quase que exclusivo das mulheres o "apanhar" ou "arrancar" feijões. A dispersão populacional dos séculos XVIII e XIX, seja por conta dos currais do Nordeste, dos tesouros do Centro-Oeste ou das questões de fronteira no Sul, foi extremamente fa­cilitada pelo prestigiado vegetal. Atrás dos colonos, foi o feijão. Ao lado da mandioca, ele fixava o homem no ter­ritório e fazia, com a farinha, parte do binômio que "governava o cardápio do Brasil antigo".
     No início do século XIX, absolutamente todos os viajantes que por aqui passaram e descreveram os hábitos dos brasileiros de então mencionaram a im­portância central do feijão como alimento nacional. O francês Saint-Hilaire sentenciava, nas Minas Gerais de 1817: "O feijão-preto forma prato indis­pensável na mesa do rico, e esse legume constitui quase que a única iguaria do pobre." Carl Seidler, mi­litar alemão, narrando o Rio de Janeiro de 1826, des­crevia a forma como era servido: "acompanhado de um pedaço de carne de rês (boi) seca ao sol e de tou­cinho à vontade", reproduzindo em seguida uma má­xima que atravessaria aquele século e o seguinte: “não há refeição sem feijão, só o feijão mata a fome". Mas opinava: "o gosto é áspero, desagradável". Segun­do ele, só depois de muito tempo o paladar europeu poderia acostumar-se ao prato. O americano Thomas Ewbank, em 1845, escreveu que "feijão com toucinho é o prato nacional do Brasil".
     Porém, o retrato mais vivo do preparo comum do feijão - não é ainda a feijoada - foi feito pelo francês Jean-Baptiste Debret. Des­crevendo o jantar da família de um humilde comerciante carioca nos tempos de d. João VI, afirmou que "se compõe apenas de um miserável pedaço de carne-seca, de três a quatro polegadas quadradas e somente meio dedo de espessura; cozinham-no a grande água com um punhado de feijões-pretos, cuja farinha cinzenta, muito substancial, tem a vantagem de não fermentar no estômago".
     Porém, nem só de feijão viviam os homens. Os in­dígenas tinham uma dieta variada, e o feijão nem mesmo era o seu alimento preferido. Os escravos também comiam mandioca e frutas, apesar da base do feijão. Mas há o problema da combinação de ali­mentos, também levantado por Câmara Cascudo na sua belíssima História da alimentação no Brasil. Havia, na Época Moderna, entre os habitantes da colônia, tabus alimentares que não permitiam uma mistura completa do feijão e das carnes com os outros legu­mes. Como poderiam fazer nossa conhecida feijoada?
     Na Europa, sobretudo na Europa de herança lati­na, mediterrânica, havia - e há - um prato tradicio­nal que remonta pelo menos aos tempos do Império Romano. Consiste basicamente em uma mistura de vários tipos de carnes, legumes e verdu­ras. Há variações de um lugar para o outro, porém é um prato bastante popular, tradicional. Em Portugal, o cozido; na Itália, a casoeula; na França, o cassoulet; na Espanha, a paella, esta feita à base de arroz. Esta tradição vem para o Brasil, sobretudo com os portugueses, surgindo com o tempo - na medida em que se acostumavam ao paladar, sobre­tudo os nascidos por aqui - a ideia de prepará-lo com o feijão-preto, inaceitável para os padrões eu­ropeus. Nasce, assim, a feijoada.
     Segundo Câmara Cascudo, "o feijão com carne, água e sal, é apenas feijão. Feijão ralo, de pobre. Feijão todo-dia. Há distância entre feijoada e feijão. Aquela subentende o cortejo das carnes, legumes, hortaliças". Esta combinação só ocorre no século XIX, e bem longe das senzalas. O padre Miguel do Sacramento Lopes Gama, conhecido como "Padre Carapuceiro", publicou no jornal O Carapuceiro, de Pernambuco, em 3 de março de 1840, um artigo no qual condenava a "feijoada assassina", escandalizado pelo fato de que era muito apreciada por homens sedentários e senhoras delicadas da cidade.
     Vale lembrar que as partes salgadas do porco, co­mo orelha, pés, e rabo, nunca foram restos. Eram apreciados na Europa enquanto o alimento básico nas senzalas era uma mistura de feijão com farinha.
     Uma das referências mais antigas que se conhece à feijoada em restaurantes está no Diário de Pernambuco de 7 de agosto de 1833, no qual o Hotel Théâtre, do Recife, informa que às quintas-feiras seriam servidas "feijoada à brasileira". No Rio de Janeiro a menção a feijoada servida em restaurante aparece pela primeira vez no Jornal do Commercio de 5 de janeiro de 1849. Nas memórias escritas por Isabel Burton, esposa do viajante, escritor e diploma­ta inglês Richard Burton, em 1893, remetendo-se ao período em que esteve no Brasil, entre 1865 e 1868, aparece um interessante relato sobre a iguaria.  Falando sobre a vida no Brasil, ela diz que o alimen­to principal do povo do país - segundo ela equivalen­te à batata para os irlandeses - é um saboroso prato de "feijão" (ela usa a palavra em português) acompa­nhado de uma "farinha" muito grossa (também usa a expressão farinha), usualmente polvilhada sobre o prato. O julgamento da inglesa, após ter provado por três anos aquilo a que já se refere como "feijoada", e lamentando estar há mais de 20 sem sentir seu aro­ma, é bastante positivo: "É deliciosa, e eu me contentaria, e quase sempre me contentei, de jantá-la."
     A Casa Imperial - e não escravos ou homens po­bres - comprou em um açougue de Petrópolis, no dia 30 de abril de 1889, carne verde (fresca), carne de porco, linguiça, linguiça de sangue, rins, língua, cora­ção, pulmões, tripas, entre outras carnes. D. Pedro II talvez não comesse algumas dessas carnes - sabe-se de sua preferência por uma boa canja de galinha -, mas talvez outros membros de sua família sim. O livro O cozinheiro imperial, de 1840, assinado por R.C.M., traz receitas para cabeça e pé de porco, além de outras carnes - com a indicação de que sejam ser­vidas a "altas personalidades".
     Hoje em dia não há apenas uma receita de feijoa­da. Pelo contrário, parece ser ainda um prato em construção, como afirmou nosso folclorista maior no final dos anos 1960. Há variações aqui e acolá, adaptações aos climas e produções locais. Para Câmara Cascudo, a feijoada não é um simples prato, mas sim um cardápio inteiro. No Rio Grande do Sul, como nos lembra o historiador Carlos Augusto Ditadi, ela é servida como prato de inverno. No Rio de Janeiro, vai à mesa de verão a verão, dos botecos mais baratos aos restaurantes mais sofisticados. O que vale mesmo é a ocasião. Uma comemoração, uma confraternização, ou até mesmo uma simples reunião de amigos. Um cronista brasileiro da segunda metade do século XIX, França Júnior, chegou a dizer mesmo que a feijoada não era o prato em si, mas o festim, a "patuscada", na qual comiam todo aquele feijão. Como na Feijoada completa de Chico Buarque: "Mulher / Você vai gostar / Tô levando uns amigos pra conversar." O sabor e a ocasião, portanto, é que garantem o sucesso da feijoa­da. Além, é claro, de uma certa dose de predisposição histórica para entendê-la e apreciá-la, como vêm fa­zendo os brasileiros ao longo dos séculos.

Rodrigo Elias é historiador e professor das Faculdades Integradas Simonsen.
Fonte: Revista Nossa História - Ano I nº 4 - Fev. 2004

quinta-feira, 19 de março de 2015

A História Da Pobreza - Porque Pobreza?

A pobreza sempre fez parte de nossas vidas, mas nossas atitudes em relação a ela mudaram. Iniciando no período Neolítico, o filme de Ben Lewis, narrado por Shaun Parkes e animado pela empresa holandesa Submarine, nos leva a diferentes momentos da miséria no mundo. Se você sonhasse que ficou pobre ao longo dos tempos, ao acordar, qual seria sua visão da pobreza? Claro que ainda existem pessoas muito pobres, mas a pobreza atual está mais relacionada à desigualdade...